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O tipo corporal na prescrição de treino e dieta

Foto do escritor: Sérgio VelosoSérgio Veloso

É comum ver pelas redes sociais métodos pseudocientíficos que “personalizam” a dieta e treino de acordo com o somatotipo. Se nos encaixamos no perfil ectomórfico, mesomórfico, ou endomórfico. Curiosamente, esta classificação vem da psicologia e não da fisiologia. Em 1940, William Sheldon criou um sistema que associava a forma corporal ao temperamento, baseada nos folhetos germinativos. A designação de ectomorfo vem de ectoderme, folheto que dá origem à pele e sistema nervoso. Seriam pessoas magras e esguias, de constituição frágil, ansiosas, inteligentes e gentis. Mesomorfo da mesoderme, de onde derivam os músculos e vasculatura. Indivíduos atléticos, competitivos e extrovertidos. E endomorfo de endoderme, o folheto de que deriva o sistema digestivo. Claro que se refere aos gordinhos, também eles amigáveis, retraídos, preguiçosos e egoístas. O trabalho de Sheldon e colaboradores deu muito que falar pois recorria a fotografias de jovens universitários nus que vieram mais tarde a ser difundidas, levando ao processo judicial que ficou conhecido como Ivy League Nude Posture Photo Scandal. Alguns dos “modelos” eram já celebridades e pessoas influentes aquando da fuga.


Mas nos anos 60, Heath e Carter recuperam a classificação de Sheldon na sua samatocarta para caracterizar a forma corporal pelo grau de ecto, meso, ou endomorfia, surgindo aqui também os tipos intermédios. Efectivamente temos estudos a mostrar que os indivíduos no padrão ectomórfico têm mais dificuldade em ganhar massa magra do que os mesomorfos, mas vantagem em actividades aeróbicas. Nada existe sobre métodos de treino específicos para tipos corporais. Melhores ou piores para hipertrofia ou perda de massa gorda.


E quanto à dieta? Foi já demonstrado que a taxa metabólica associa-se à massa magra e não ao morfotipo, e que a dieta condiciona mais a morfologia corporal do que o inverso. Endomorfos são endomorfos porque são mais “gordos”, e não são gordos por serem endomorfos. Ectomorfos podem enquadrar-se nos magros constitutivos, mas não precisamos de uma somatocarta para perceber isso. E não existe evidência que associe o tipos corporais a uma distribuição mais favorável de macronutrientes ou energia. Dizer que os endomorfos devem ingerir 40% de hidratos de carbono e os ectomorfos 60 é pura fantasia e arbitrário. O tipo corporal é mais uma consequência do que uma causa, definido pela genética mas também por aspectos ambientais e comportamentais que condicionam a nossa fisiologia.

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