O vinagre de cidra no emagrecimento

O mito do vinagre de cidra já anda por aí há muito como mais uma mezinha caseira para emagrecer. Não é incomum me perguntarem sobre a eficácia do seu consumo antes das refeições, nem raro encontrarmos relatos do uso bem sucedido pela internet fora. Como tantas outras estratégias sem fundamento. O vinagre de cidra vem da fermentação da maçã que gera ácido acético. Mas ao contrário do que se alega, não tem qualquer efeito probiótico pois as bactérias não vivem no ambiente ácido concentrado do vinagre comercial. Nem prebiótico pois toda a fibra já foi descartada há muito no processo de fabrico. Os potenciais efeitos benéficos devem-se sim ao próprio ácido acético, que em estudos com animais sugere um efeito “preventivo” da deposição de ácidos gordos nos adipócitos. No entanto, estudos em humanos são escassos e o mais mediático é de 2009 numa amostra de Japoneses com excesso de peso, em que 30 mL diários de vinagre de cidra (1,5 g AcOH) favoreceu uma perda de 2,1 Kg ao fim de 3 meses (PMID: 19661687). Convém salientar que se trata de um estudo promovido pela indústria, um produtor de vinagre, e cujos resultados não foram replicados. Trabalhos em diabéticos têm revelado um efeito atenuante da glicemia em resposta à ingestão de hidratos de carbono (duas colheres de sopa para uma fatia de pão!), e que este fenómeno está relacionado com uma redução da taxa de assimilação intestinal e esvaziamento gástrico. A acidez, em geral, estimula a colecistoquinina que atrasa a motilidade gastrointestinal e reduz o apetite. O que, em teoria, poderia explicar um efeito no peso corporal que não foi demonstrado. No entanto, alguns relatos de efeitos adversos foram surgindo com a utilização de vinagre de cidra para fins de emagrecimento quando não é devidamente diluído. Nomeadamente lesões gastroesofágicas e erosão do esmalte dentário. Para além de um hálito infernal que, pelo que vimos acerca dos seus efeitos no peso, não parece de todo valer a pena.