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Foto do escritorSérgio Veloso

A L-Glutamina como suplemento no desporto

Um dos suplementos mais usados entre os desportistas é a Glutamina (Gln), um aminoácido não-essencial que se diz melhorar a recuperação, que é anti-catabólico, aumenta a hormona do crescimento, e também a função imune. Mas a verdade é que a evidência não aponta nesse sentido pois os resultados são no mínimo desanimadores. A Gln é um dos aminoácidos em maior concentração no plasma (~0,6 mmol/L ou 90 mg/L), e o mais representativo no músculo (~20 mmol/L), que é o seu principal produtor, libertando para o sangue cerca de 9 g por dia em condições basais. Libertação essa que reduz com o aumento do aporte proteico na dieta, e não necessariamente apenas com a suplementação exógena.


O intestino e sistema imunitário são os principais consumidores de Gln. No primeiro é importante para produção de energia, replicação, e manutenção das junções inter-celulares basolaterais que mantêm a integridade do epitélio. E este é o principal motivo para o efeito residual da suplementação via oral, e que os resultados positivos se verifiquem em exclusivo por via parentérica (IV). O intestino metaboliza 50-60% da Gln que ingerimos, e o fígado grande parte do que sobra. Daí que a ingestão de 0,1 g/Kg apenas eleve os níveis plasmáticos em 2 vezes 30 min após toma, com rápido retorno ao basal após 2 h. Bem menos de metade chega efectivamente à circulação periférica e tecido muscular, impossibilitando qualquer efeito notório a nível anti-catabólico ou como secretagogue hormonal. E neste último ponto, apenas um estudo muito controverso e de desenho experimental fraco sustenta essa alegação.


Alguns estudos têm sugerido a suplementação com Gln nas fases de maior volume de treino e provas em atletas de longo endurance. Isto por uma eventual redução da incidências de infecções do trato respiratório superior que se julgam influenciadas por uma depressão imunitária resultante do esforço intenso. Não obstante, o mesmo se consegue com a suplementação intra-treino/prova de hidratos de carbono, com um benefício adicional no rendimento do atleta.


E por tudo isto, a Gln é inútil na generalidade dos casos. Poderíamos apenas indicar em estados hipercatabólicos como o overtraning e até em contextos clínicos marcados por caquexia. Tendo em atenção que as doses necessárias tornam-se muitas vezes proibitivas pelos efeitos secundários a longo prazo, como hiperamonémia e distúrbios gastrointestinais.

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