O grande drama de muitas mulheres. Celulite é um termo corriqueiro que define uma condição estética, não patológica ou clínica, muito comum entre as mulheres. Mas apesar de no sexo feminino ser bem mais prevalente (até 90% das mulheres em algum momento da sua vida), não é exclusiva e pode surgir também nos homens mas com uma prevalência <10%. A celulite é caracterizada por alterações histológicas no tecido subcutâneo, provavelmente influenciadas pelas hormonas sexuais, particularmente os estrogénios, e processos inflamatórios que estimulam a produção de colagenase pelos fibroblastos presentes na matriz do tecido adiposo, enzima que degrada as fibras estruturais de colagénio. Isto permite a migração de adipócitos para regiões mais superficiais da pele, originando a histologia característica da celulite e o aspecto “casca de laranja”.
O termo celulite foi introduzido no léxico médico em 1873 para definir uma inflamação e infecção bacteriana no tecido subcutâneo. Em nada relacionado com a estética. Mas em 1933, um médico francês define abusivamente e pejorativamente celulite numa revista sensacionalista como “uma combinação de água, resíduos, toxinas e gordura que formam uma mistura má”. Referia que se tratava de um problema feminino em exclusivo, e que era uma forma diferente de gordura quase impossível de perder. Foi a primeira vez que a palavra se associou à estética, numa altura em que um novo padrão de beleza ia ganhando forma na Europa. Umas décadas antes era considerado normal no corpo feminino. Sempre existiu.
Em 1968 que a Vogue publicou o artigo “Celulite: a gordura que antigamente não se podia perder” e apresentou o conceito às mulheres Americanas. O artigo falava de uma jovem que lamentava ter esperado tempo demais para o diagnóstico de celulite, mas felizmente foi capaz de se livrar dela por meio de exercício, dieta rigorosa, até aqui tudo bem, ficar de pé de forma correcta, esfregar-se com um rolo especial, e massagens. Uma novidade na América, mas prática já comum em França.
Muitos tratamentos milagrosos surgem para solucionar esta condição, embora a evidência da sua eficácia seja praticamente nula. Não existem estratégias nutricionais específicas, mas a perda de peso/gordura de uma forma generalizada pode melhorar a aparência histológica da pele, aliada à tonificação muscular para menor flacidez. Tratamentos com infiltrações localizadas não fazem mais do que preencher o tecido com líquido ou edema inflamatório, “esticando” a pele e afectando positivamente a sua aparência de uma forma transitória. Não há segredo nem tratamentos milagrosos, e pode ocorrer mesmo em mulheres magras. Principalmente aquela que só elas vêem. “Olhe aqui... tenho imensa celulite”. Em primeiro lugar, nõo aperte se nem se nota a olho nu. Depois trata-se da dieta e estilo de vida, com foco na composição corporal. A celulite melhorará secundariamente.
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