O impacto da pílula anticoncepcional na composição corporal suscita muitas dúvidas entre as mulheres. Vimos já num post anterior que o efeito a nível da massa magra depende essencialmente do tipo de progestina. Quer as anti-androgénicas como as de alta actividade androgénica parecem exercer um efeito catabólico moderado. Progestinas mais fracas tendem a um impacto neutro na massa muscular. Mas e quanto à massa gorda? A pílula engorda?
Um inquérito feito a médicos e outros profissionais de saúde indica-nos que cerca de 80% acredita que sim. Mas a verdade é que a evidência não vai ao encontro desta percepção. As meta-análises realizadas sobre o tema não são claras, e não parecem associar a pílula combinada ao ganho de peso e massa gorda. No entanto, as pílulas de progestinas em exclusivo parecem exercer um efeito ligeiro no aumento de peso, que deverá depender igualmente do tipo e afinidade selectiva. Possivelmente pelo aumento de apetite que parecem induzir. Apesar de as pílulas combinadas, com estrogénio e progestina, revelarem em geral um efeito neutro no ganho de massa gorda, a verdade é que estudos já antigos sugerem uma alteração da distribuição de massa gorda para um perfil mais ginóide. Maior acumulação na região gluteo-femural e braços.
O principal motivo pelo qual a pílula pode influenciar o peso nas mulheres prende-se com a retenção hídrica. Os estrogénios baixam o limiar de osmolaridade em que a vasopressina é activada, favorecendo a acumulação de fluidos no espaço intersticial, aumentam a sede e favorecem a recaptação renal de sódio. O etilnil-estradiol, forma mais comum nos anticoncepcionais, tem uma semi-vida mais longa que os estrogénios endógenos, o que tende a amplificar todos estes efeitos. Podem igualmente exacerbar a celulite, um fenómeno que é em grande parte contributo dos estrogénios ao estimularem a produção de colagenase pelos fibroblastos. A matriz extracelular é parcialmente degradada e permite a migração dos adipócitos para zonas mais superficiais. A principal característica histológica da celulite.
E apesar da acção diurética de algumas progestinas, o relaxamento do músculo liso que induzem tende a dificultar o retorno venoso e promover o edema. Tal como os estrogénios, favorecem o aumento do volume do espaço extracelular mas principalmente pelo extravasamento de proteínas plasmáticas que aumentam a pressão osmótica no interstício.
É certo que nem todas as mulheres respondem da mesma forma, e o impacto depende não só do tipo de progestina mas também da dose, quer da progestina quer de etinil-estradiol. variável entre pílulas. Mas o ganho de massa gorda em absoluto não parece significativo, mesmo com a redistribuição que se pode verificar, sendo a retenção de líquidos o principal responsável pelo ganho de peso.
Referências
J. Appl. Physiol. 87(3): 1016–1025, 1999 Cochrane Database Syst Rev 2014 Jan 29;(1):CD003987 Cochrane Database Syst Rev 2016 Aug 28;2016(8):CD008815 Hum Biol 1988. 60(5):793 Exerc Sport Sci Rev. 2008 July ; 36(3): 152–159
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