A nutrição como ciência refugia-se muitas vezes nos terrenos pantanosos da epidemiologia para estabelecer condutas que acabam por se tornar práticas clínicas e dogmas. Isto pela dificuldade ou impossibilidade em desenhar e concretizar os ensaios clínicos necessários para comprovar uma hipótese e inferir uma relação causa-efeito. O efeito de um nutriente ou alimento no desenvolvimento de uma doença crónica manifesta-se a longo prazo e a magnitude do impacto é certamente pequena, sendo necessários estudos proibitivamente longos e de dimensão irrealista, com custos exorbitantes que ninguém está disposto a pagar. Com epidemiologia não… é tudo bem mais fácil e rapidamente se estabelecem associações que abusivamente se especulam como causais. Esta questão é há muito debatida e existem critérios para inferir causalidade (Bradford-Hill) que muitas vezes são atropelados pela ânsia de um resultado mediático. São estes 1) força de associação, que é tanto maior quanto maior o risco relativo, aumentando a confiança numa relação causal, 2) consistência e coerência, com reprodução em várias amostras e por diferentes investigadores, 3) temporalidade (o efeito vem depois da causa), 4) gradiente biológico (a associação é maior quanto maior a exposição), e muito importante, 5) plausibilidade, uma base credível para a associação ou experimentação para comprovar a hipótese. Sem satisfazer estes critérios podemos fazer associações com o que nos apetecer, espúrias e meros artefactos de duas variáveis que seguem uma tendência comum. Por exemplo, bem conhecida é a associação entre o consumo de gelados na Austrália e os ataques de tubarão. Uma associação real, mas claramente não causal. O consumo de gelados aumenta no Verão, bem como a afluência às praias. Como este existem inúmeros exemplos que ilustram as armadilhas da epidemiologia em que muitos ainda caem, ou tropeçam propositadamente sabendo que lá estão.
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