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Sim... Vou tomar a vacina para a COVID-19

Atualizado: 5 de dez. de 2020

É um assunto que gera mais polémica do que imaginei quando levantei a questão nas redes sociais. Para mim é óbvio e natural assumir que, quando estiver disponível e for indicado, tomarei a vacina sem pensar duas vezes. Mas grande parte das pessoas, cerca de 40% dos que me seguem no Instagram, não o pretendem fazer. Ou pelo menos se fosse agora, com o que se conhece hoje sobre a vacina.


A pressa na criação de uma vacina e a pressão que as próprias farmacêuticas sofreram nesse sentido foi natural. E por isso natural também que o processo tenha sido acelerado tanto quanto possível, e o que habitualmente leva anos desta vez tenha sido feito em 10 meses com bons resultados a nível de eficácia e segurança. Mas que não pode ser garantida a longo prazo, nem tão pouco que a imunidade será duradoura. Isso saberemos com o tempo, pois não há mais tempo para esperar neste estado de coisas. Uma provável crise social e económica como não há memória nestas duas últimas gerações.


É legítimo que a curta duração dos trials assuste alguns pelas poucas certezas que temos acerca dos efeitos a longo prazo. E que isso instintivamente leve a recusar a vacina, posição que acredito mudar à medida que os grupos prioritários forem vacinados e não se verificarem colaterais. Outros marcam a sua posição por revolta contra a política adoptada no combate à pandemia, mais do que por receio da vacina. Espero que no entretanto consigam separar o que são decisões políticas do que é saúde pública. A vacina é a forma mais rápida de atingirmos imunidade de grupo e iniciar a retoma. Penso que isso todos queremos, mas para tal será necessário vacinar mais de metade da população.


Mas mais perigoso do que tudo isso são os "antivax", contra as vacinas em geral e que têm aproveitado a boleia desta polémica, e as correntes alternativas da saúde que vêem aqui uma oportunidade para marcar a sua posição de ruptura. Usando o crédito que lhes é dado por alguns para disseminar desinformação e o medo. Como ja ouvi, que a vacina vai alterar o nosso DNA. Efectivamente utilizou-se uma tecnologia inovadora na criação desta vacina, não por oportunismo mas sim por necessidade, e com a vantagem de ser mais barato. Duas das vacinas são de mRNA, a da Moderna e Pfizer, e a de Oxford utiliza um vector viral. As restantes 3 adquiridas pela UE são convencionais. Não foi por acaso que as primeiras no mercado são precisamente as que mencionei. São mais rápidas de produzir pois só requerem o conhecimento do genoma do vírus, publicado ainda em Janeiro por cientistas Chineses. Foi possível começar desde logo a trabalhar na vacina sem necessitar de criar formas menos virulentas do SARS-CoV-2.


E como funcionam estas vacinas? Bem simples... O RNA mensageiro (mRNA) vai fazer com que os nossos ribossomas produzam a proteína das espículas do vírus, à qual o nosso sistema imunitário vai reagir e criar anticorpos. Tão simples quanto isto, e sem haver qualquer troca de material genético entre a sequência codificante de RNA e o nosso DNA. Isso não é possível de acontecer. Quanto à de Oxford, usa como veículo da sequência codificante da proteína um vírus endémico e inofensivo para o Homem, e mesmo assim modificado para que não possa replicar. Por outras palavras, não nos expõe a nada a que não estejamos naturalmente expostos e o risco de integração do material genético no nosso DNA é virtual, e até menor do que teríamos na infecção com o SARS-CoV-2. Não vamos ter mutantes podem descansar.


Por mais claro que seja, é escusado argumentar e chamar um "antivax" à razão. Irão continuar a achar que as vacinas são estratégias de controlo populacional, que causam autismo ou que nos estão a inserir um microchip GPS para vigilância. E agora que alteram o nosso DNA. Já li de tudo. Podem dar-se a esse luxo pela imunidade de grupo que os mais sensatos permitem na comunidade, e estou certo que mudariam de opinião se infectados com Polio ou Varíola. Um grupo perigoso mas que felizmente representa uma minoria. E uma pequena parte dos que agora recusam esta vacina.


Eu decido toma-la não porque tenho "medo" da COVID-19. Na verdade não tenho medo nenhum de ser infectado, as probabilidades estão bem a meu favor, e também não concordo com muitas das políticas adoptadas no controlo da pandemia. Acho que só daqui a uns meses vamos poder olhar para trás e perceber o que se fez de errado. Mas ninguém estava preparado para isto, por mais sinais que existissem e por mais previsível que fosse. Não é a primeira e não será a última, seja pelo Mundo globalizado em que vivemos seja pela invasão dos habitats das espécies portadoras destes vírus. Decido toma-la porque não quero ser um vector de transmissão, e sei o quanto é importante a imunidade de grupo para se dar início à retoma. E estando suficientemente seguro em relação à vacina no seu "custo/benefício", farei a minha parte.


Que não se entre em teses de conspiração. Todos têm interesse em retomar a normalidade o mais rápido possível. As pessoas, governos, e a indústria farmacêutica com tão má fama. A Big Pharma que quando não tem uma cura está a esconde-la por interesse, e quando a mostra é porque há interesses escondidos. Mas nunca antes houve um esforço tão concertado por parte da indústria na descoberta de uma vacina, e nunca antes o processo foi tão transparente. Milhares de publicações científicas e partilha de dados constante com os reguladores que acompanharam o processo de desenvolvimento da vacina desde o início. E por isso acredito que tenham em mãos os dados necessários para a tomada de uma decisão favorável e instruída. Os Estados não querem o ónus e a despesa de tratar as sequelas. Nem a própria indústria, movida sim pelo lucro mas que neste caso até agiu de forma bem decente. Com valores entre 3 e 7 euros por dose certamente vão ganhar muito dinheiro, mas não tanto quanto poderiam nem estará muito acima do próprio custo. Se a vendessem pelo dobro os Estados comprariam na mesma sem questionar.


É legítimo que haja receio da vacina, em particular por quem não entende minimamente como se processam os ensaios clínicos e como uma vacina actua. Foi de facto tudo muito rápido, e as pessoas estão revoltadas e cansadas desta pandemia. Mas é a forma mais imediata de acabar com ela, e por isso tenho esperança que essa posição mude à medida que se vai vacinando a população e por consciencialização da importância dessa imunidade comunitária. Só assim teremos a "liberdade" de volta, em segurança para todos.

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