Ontem tivemos de volta as reuniões no Infarmed, sempre férteis em ideias brilhantes que só demonstram como anda tudo à nora com a COVID-19. E uma das mais curiosas veio de um renomeado especialista em Saúde Pública que, segundo um estudo que só a sua escola conhece, numa amostra de cerca de 500 pessoas infectadas em Lisboa e Vale do Tejo, 96,5% referiu ir ao ginásio pelo menos uma vez por semana. Logo conclui que são um local de altíssimo risco, e remata com um pior do que os transportes públicos. Ora, com todo o respeito que o seu CV merece, claramente não frequenta nem um nem outro embora lhe fizesse bem. Esta afirmação surge dias depois da divulgação dos dados preliminares de um estudo a nível Europeu que sugere uma taxa de infecção baixíssima nos ginásios, de 0,78 por cada 100 000 visitas (SafeActive). Resultado de todas as medidas que foram implementadas. Não admira que as pessoas não os levem a sério. Além disso, convém salientar que no alegado estudo do Instituto de Saúde Pública não foi avaliada a taxa de infecção nos ginásios. Frequentam-nos, mas isso não implica que tenha sido contraído ou transmitido por lá. Aposto que 100% da amostra usa a casa de banho pelo menos uma vez por dia e não as vejo indicadas como locais de alto risco.
E serei o único a achar estes números uma improbabilidade estatística tremenda? Num país onde a taxa de penetração dos ginásios ronda os 5%, uma frequência de 96,5% numa amostra de 500 pessoas é muito implausível, para não dizer impossível. A não ser que tenham feito os inquéritos à porta dos ginásios de Lisboa. Será que confundiram frequentar ginásio com praticar exercício pelo menos uma vez por semana? E 60% das infecções não ocorriam em contexto familiar? Até há uns dias sim, mas parece que agora 80% têm origem desconhecida. Com tanta incongruência não é de estranhar que as pessoas se sintam à deriva. Quem tem a responsabilidade das decisões claramente que não está mais esclarecido do que o cidadão comum. E no entretanto arruina-se uma actividade que promove saúde, supostamente em nome da saúde mas sem nada em concreto apontar para um risco maior do que outras catalogadas como “essenciais”. A responsabilidade é de cada um de nós, e não de um sector em particular. Fiscalize-se, mas não se discrimine sem um fundamento sólido.
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