A moda da terapia de reposição de testosterona
Esta é uma das perguntas que mais frequentemente me fazem, sinal dos tempos em que vivemos hoje. O que eu acho da terapia de reposição hormonal (HRT), em particular com testosterona. Preocupa-me ver como homens nos seus 20 e 30 anos acham que precisam de reposição de testosterona (TRT) sem indícios de quaisquer problemas no eixo hormonal. Mascarado por alegados benefícios na sua saúde e bem-estar, ou tratamento de uma depressão (loles), o que querem na verdade é usufruir dos efeitos da testosterona a nível da composição corporal. Jardar com aval médico e com uma menor carga moral. Ora, vamos chamar as coisas pelos nomes. Tomar 1 Testoviron por semana não é TRT. É mesmo um ciclo, mas ainda por cima um ciclo de m3*d@. Trata-se já de uma dose supra-fisiológica, em que a concentração sérica excede a amplitude natural em mais de 70% do tempo entre aplicações, e sem um motivo clínico para a terapia não passa de uma utilização recreativa e com pouco efeito a nível da composição corporal. Sujeita ao mesmo ónus moral que o bro do ginásio a dar forte na jarda, e igualmente supressiva da produção natural. Na verdade, apenas 100 mg de enantato de testosterona aplicados semanalmente inibem a produção de LH e FSH em 90% (DOI 10.3389/fendo.2020.572465). Com o esperado impacto negativo na espermatogénese de que não se safam, pois depende essencialmente dos níveis de testosterona intra-testiculares e FSH.
Não é pelos teus níveis estarem na primeira metade da norma que beneficias da reposição, e muito menos na ausência de sintomas claros de um hipogonadismo sem causa tratável. Os níveis totais significam pouco quando descontextualizados, e a resposta hormonal depende de mais do que simplesmente valores absolutos. Nada nos dizem sobre a densidade de receptores e competição com outras hormonas esteróides. Na verdade, com a TRT só porque sim estás a criar um problema que terás de resolver mais à frente. E ao contrário do que ouço dizer, não estamos mais atrasados do que outros países por termos médicos mais conservadores. Que não prescrevem oxandrolona como se fosse vitamina C só para dar aquele boost. Utilização de fármacos por recreação não faz parte das suas competências. Apenas resolver as consequências das escolhas que se fazem, e não para validar o uso de esteróides anabolizantes para fins não terapêuticos. Eu não sou contra nem a favor da "HRT", mas chamem as coisas pelos nomes. Jardar com prescrição, porque HRT é outra coisa.